O que saiu na hora da libertação

Deixem que as areias me sufoquem

Que as cadeias me cativem

E o amargo me embriague

Deixem a dor me esculpir

O embaraço me alentar

E a angústia me ferir

E que aos poucos me apague

Desajeitado como rima louca

Ferido pelo golpe de uma vida vã

Nada sinto a não ser a anedonia

Vazia e fria a pulsar

Rouca qual animal à beira da morte

E que se desfoquem as lentes que me procuram

Que se desfaçam como neblina foge à luz

Desejo a impenetrabilidade que me foi negada

E a furtividade que ainda me seduz

Azedos são os dias que me perseguem

Fiz disso o meu tostão

Sacrifiquei minhas verdades pelas mentiras vendidas

Enrolei meus amigos em fios de aço

E sobre a dor que lancina

Sobre a ferida aberta na mão

Coloquei a metáfora jamais dita

Deixei para morrer o sonho que me alimentava

E, forte, matei a própria morte

Que me esperava no portão

Nada me satisfaz

Nenhuma carne me põe alegre

Sonhos já não fazem sentido

Escritos já não revigoram

Quem sabe um dia eu não aprenda

E por fim me arrependa

De toda esta imprestável apatia

De como tenho me despido

De toda esperança contumaz

Que já não trago comigo

Nem espero trazer um dia

Queria morrer por um dia

Sob um sol de esquecidos

E sorrir pros ventos, certo

De que não há pendências

Não há um ponto perdido

Não há conhecidos por perto

Não há carta tardia

Desejos sufocam-me

Desejos vis

Desejos que não são desejos

São fábricas de despejo

De sub-sonhos sutis

Áquila Teófilo
Enviado por Áquila Teófilo em 02/02/2012
Reeditado em 02/02/2012
Código do texto: T3475717
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