Estranho
Uma peça sempre está faltando
No mundo,
Em mim.
Não de uma forma concreta
Como uma lacuna que deixa um vazio;
Mas como um nada que, aos poucos,
Perde os seus contornos ao se desfazer em tudo.
É, realmente, estranho, pôr-se a estar dentro do que não é.
E, dentro dele, estando, senti-lo como se ele fosse algo que é.
Estou querendo dizer algo que não sei o que é.
Mas, justamente por não saber o que é,
Acabo por entender que somente consigo sabê-lo
Na medida em que não o sei.
É...
Eu sei que é estranho.
As bordas do relativo, por um instante,
Arriscam a iminência de uma grande verdade;
Grande, mas ridícula.
Continuo indo para lugar nenhum,
Porque já cheguei;
Porém vivo como se estivesse sempre partindo,
Esperando por um trem que há muito se foi da estação;
Estação que já não existe,
Mas que quero reconstruí-la para poder dela partir.
Eu e o mundo existimos incompletos;
Nós somos completos apenas não existindo,
Apenas no gozo da falta.
Porém, a luz sempre projeta a minha sombra em algo,
Naturalmente, normalmente,
Ignorando toda a estranheza que a minha mente cria.