CASO ENCERRADO
Nossa relação tá meio dégradé
Nossa relação tá num embasado fumacê
Escondemo-nos por dentro démodé
Repartidos num aquário de vidro fumê
Estamos juntos sem nos ver
Como apóstolos incrédulos
Que não acreditam no amanhecer
Padecemos e agora o que fazer
Ser ou não ser
Soa tão clichê...
E no porão do sepulcro é surdo o sofrer
Emudecer às vezes é mais cruel
Que escrever as mágoas num pedacinho de papel
As lágrimas que secam não voam para o céu
Encarceradas e escarlates se libertam
Como a Isis sem seu véu
Ou a confissão sem seu réu
Neste mesmo guardanapo úmido de papel
Não mais que de repente e num outro tom
Chegara-me pelas mãos de um garçom!
Falava-me pelas flechas de um cupido apaixonado
Um escrito improvisado de batom...
Crucificas-me hoje bem sei
Mas por tuas mãos de Iscariotes me libertei
Pelos beijos que um dia eu tanto te dei
Nas horas em que a tarde finda
Ditas inda que incertas
Deste-me um ósculo no opúsculo da oferta
Hoje trago uma coroa de espinhos
Que a rosa me coroou para ser seu rei.
Olhei para os lados quem seria o culpado
Se em vida matei o que em vida me libertou
Quando havia me crucificado...