CORAÇÂO ENTERRADO

Coração Enterrado

Quase sem ar,

Bati, bati com todas as minhas forças,

Soterrado, Soterrado.

Bati, bati, estava sob a terra,

Mas se estava vivo,

Como poderia estar do outro lado,

Dentro de fechado féretro,

Soterrado, soterrado.

Bati, bati no caixão selado,

Estava sob a terra, sob a terra,

Estava enterrado, enterrado,

Sem ar, sufocado, sufocado,

Com o bolor e com os fungos,

Estava desesperado, desesperado.

Como lá estava?

Se estava vivo, vivo

Como cá estava, estava,

Sob a terra, sob a terra,

Soterrado, estava soterrado.

Mas respirava, ainda respirava,

Como estava vivo, vivo, e estava cá,

Do outro lado, do outro lado.

Bati, bati com força no ébano,

Ninguém ouvia as minhas súplicas,

Soterrado, estava soterrado,

Já sem forças, sentia-me enterrado;

Tal fúnebre acontecimento acontecia,

Como se estava vivo, vivooooo, batia, batia,

E o caixão selado não se abria.

Como pudera eu cá estar,

Se estava vivo, vivo,

Estar aqui, soterrado, soterrado.

Percebi quando senti pequenas patas bailarem sobre meu túmulo,

Que estava, estava sob a terra, sob a terra,

Minha memória se perdia,

E em um último impulso me lembrava,

Se estava vivo, vivo,

Como posso estar cá,

Do outro lado, do outro lado,

Soterrado, soterrado,

Sob a terra, sob a terra,

Sentindo o cheiro de bolor, de bolor,

Com os fungos, com os fungos,

Então vi teu rosto, senti o teu cheiro,

Mas se estava soterrado, soterrado,

Estava enterrado, enterrado...

Já não batia mais,

Já não batia mais,

Já não batia mais...