Indeciso

Algum dia eu explico a atmosfera maldita

que, como um acontecimento astrológico

se expande para ir sugar minh'alma aflita

com todo um inexplicável voodoo ilógico

É quase que meia noite, a hora em que eu

com a impertinência incomoda dum plebeu

começo a sentir na carne, sabe-se lá aonde

uma palpebra vermelha que não essa minha

a procurar minha essência, também sozinha

e dela minha essência casmurra se esconde!

Quem dera que alguém um dia entendesse

minha idéia já gasta de tanto ser explicada

pois digo: meu objetivo é aquele e não esse

eu falo, me repito e ninguém entende nada!

Continuo a ler e a escrever raciocínios monumentais

de rima e lirismo, minha mente é quase uma escrava

mais de vez em quando ela chega a perder a sua paz

ao dar-me todos pontos e virgulas e engolir a palavra

Até quando os meus gemidos serão somente mais

massas de ar a se aglutinar as massas continentais

da noite naturalmente quente que é a dos trópicos?

Já não escanciono meus poemas com uma métrica

e ninguém mais se preocupa com rimas e fonética,

mais esse é o unico modo que mostro tais tópicos!

Pensando nos raros colegas que por sorte eu cativara

mando minha mensagem silenciosa para o mais querido

que ele persista no caminho com a rigidez de uma vara

ao pedir que não me abandone caso tenha enlouquecido

Que por várias noites eu fico acordado até as duas

imaginando que em algum lugar, em uma outra casa

está um outro ser com o cerébro ardendo em brasa

escancionando dores minhas, pensando ser só tuas

como eu gostaria de poder saber onde estão os seus lares

para dizer-lhe que as nossas dores estranhas são similares

Uma feia coruja teima em deixar-me seu breve recado

que seria mais saudável deixar tudo que penso de lado

“pobre poeta, tú sabes a um bom tempo e muito bem

és o único na Terra que escutas, em estado de coma,

a bizarrice biológica que é o nascimento de um linfoma

você somente sente tais dores, você e mais ninguém”

Com esta última esconjuração eu me deitei na cama

mas ainda sem dormir, abraçado com minha insônia

sentia o meu metabolismo em sua atividade errônea

ele insistia: "alguém lá fora ainda pensa que te ama"

Ainda rolando nos longos edredons, estava a pensar mais a fundo

esta pessoa que pensa que me ama e não me conhece está errada,

com certeza sofre de uma insanidade e está prestes a ser internada

pois não é possivel que eu encontre alguém que me ame no mundo

Pois, de todos os insondáveis mistérios de nossa longa Era

aquele que mais tem me angustiado esse tão curioso espirito

é quem aceitará o fardo de ecoar a nota grave do meu grito

sinalizando as vítimas hipotéticas de minha interna pantera

parece –me impossivel ser, alguém saber como é sujo meu coro

e mesmo assim pensar em mim com ares românticos de namoro

Penso ter desmaiado de tanto esforço que fiz

pois no meio de estrelas cansadas de seu brilho

ouço uma presença distante de meu pai, ao filho

a ensinar que ainda há possibilidade de ser feliz

Sem querer, eu sinto o gosto de meu suor de água e sal

acordo, indeciso por horas, o olhar em um radiante luar,

entre a sugestão desse sonho extremamente particular

e o tão antigo pessimismo niilista da doutrina universal!

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 06/12/2011
Reeditado em 23/12/2011
Código do texto: T3374302
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