O Raciocínio e a Loucura

I

Mas quão vazia deve ser toda esta minha existência

encontro-me sozinho novamente sem nem ter como

chamar os meus serviçais: esta a dormir o mordomo

já foi comprida todas minhas ordens sem resistência

Lá fora uma coruja aquece as suas cordas vocais

com um sopro gelado a se costurar entre prédios

sinto dentro dos limites dos pensamentos mentais

um Tèdio que me parece o pai de todos os tédios!

Deus è uma criatura pra là de vingativa

disse, na sua primeira semana de glória

“toma, homem, uma cabeça sempre ativa

vais ser castigado por toda a sua História”

Sim,por que para mim o raciocinio é um vicio

um mal estar que desregula até o meu esôfago

para mim é maldição, é como o eterno suplicio

do morto-vivo que se trancou em um sarcófago

Dizem que este raciocinio nos é o mais belissimo presente

que é o suor que mata todos os anseios dos filósofos sedentos

mas me lembro mesmo é do quanto foram bons os momentos

quando todo resquício do raciocinio se encontrava ausente

Podem dizer o que quiserem, mentes de vivência incompleta

mas não poderão, jamais, me julgar com justiça vulgar e vil

qualquer versão tua dos fatos serà a mais viciada e incorreta

pois não durmiste uma noite sequer sob influência de Rivotril!

Essas chamas dos meus pensamentos ainda não se saciaram

e nas cenas randômicas de um antigo filme em algum video

eu penso por um segundo entender os motivos que levaram

adolescentes suicidas a consequência brutal do seu suicídio

E vou entendendo inconscientemente a loucura tão enfática

da pouca conexão que leva os pacientes aos consultórios

a resposta quimica que resolve os casos mais simplórios

como uma soma com poucos digitos da ciência matemática!

Mais digitos se multiplicam, filhos instantâneos da mente que calcula

a pensar: afinal, qual é o número final da minha conta, dessa desgraça

de saber das quantias de dinheiro,das belas festas que sairam de graça

para os tais médicos sádicos que lucraram à custa da minha mácula?

Mas eis que meu cérebro volta aos tempos ditosos de cárcere privado

época quando eu não conseguia formar uma frase de tão ensandecido

vou colocando tudo nas balanças da Justiça cega e penso não ter sido

o comprimento fiel do nosso contrato como um dèficit para meu lado

Sim, lembro-me quando me fizeram louco os remédios

fui que nem uma inocente criança sem qualquer direção

crendo novamente nos roteiros inscritos no meu coração

e eis que acordo sofrendo os piores de todos os assédios!

Verdadeiramente era a forma mais maligna de vingança

ir confundir essas minhas tão valiosas sinapses nervosas

ao ponto de não conseguir sintaxe inteligivel nas prosas

como se eu não tivesse sido alfabetizado quando criança

Mas que encruzilhada mais complicada esta em que eu estou

já não suporto a sanidade racional e me impedem de ser louco

dizem que é a última receita e eu peço para esperar um pouco

pois os efeitos do remédio é praticamente tudo que hoje sou!

Sim, porque hoje seria realmente digno minha’lma ir ser rebatizada

pois Felipe já não é mais o meu nome verdadeiro, nem este ameno

Ernani, o louco que cria amigos para si desde quando era pequeno

meu nome deve ser o mesmo deste produto de calma industrializada

II

Que o anfitrião refaça as minhas malas com uma coisa dentro apenas

o cinto preto fosco que terei de usar a minha vida inteira e meio insão

dizer ao cartório: meu sobrenome é Rivotril, já viste aqui meu irmão?

Por acaso viste alguém que faça minhas confusões um tanto amenas?

Ela responderia: tua familia é tão grande, se passaste alguem, sei não

enquanto tentava ignorar os berros sanguinários de palavras obscenas

por um outro doido com Aderral no nome, ator dessas horriveis cenas

que eu pressenti ser dirigida por um psiquiatra, fazendo tudo em vão

Temendo olhar alguém nos olhos para que eles não percebam o buraco

deixado pelo vazio da minha essência retirada,tentando não ser fraco

mas os belissimos efeitos jà ressoavam nos lóbulos da minha mente

Juntei-me à outros autores desta mesma lingua estupidamente culta

fiz vàrias versões mais ou menos úteis da minha lápide ainda insepulta

era uma pena que a minha mão adestrada se encontrava dormente

III

Quando toda a futura rotina da minha carne estava pronta,

pensei nas mesmas travessuras que a prole plebeia apronta

decidi por conta própria, modo raro de se fazer uma decisão

de que este meu ser no interior, por mais perdido que ele estivesse

ainda poderia ouvir o clamor daquele fogo vivente que não padece

“estou cansado de conciliar os dois monstros: a Loucura e a Razão!”

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 02/12/2011
Reeditado em 20/12/2011
Código do texto: T3367579
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