ABSINTO

Altas horas
O espelho me
Enlouquece
Reflete alguém
Que sou e não
Transmuto
Invento codinomes
Sinto fome
Do absoluto
Percorro
o agora
As faces do eu
Com as mãos
Discorro
Sobre o além
Sobre as angústias
Que a alma tem
Fremo cada osso
Cismo – teço
Utopias
Desço
Em mim
Como um poço
Atravesso
O vão
Com o jorro
Dos vocábulos
E o verso
Eclode
Sacode
Explode
Rubro
Com o sabor
De outubro
Embora
Novembro seja
Esteja
 No fim
E mesmo tendo
A via incerta
A vida concreta
Mesmo sendo
Um pobre párvulo
Me sinto
Flor de absinto
Um tabernáculo
Da poesia
Tenho a ousadia
Do voo
De dizer que sou
Poeta
       Órfão
               Porém
                       Pólen.