SIMPLESMENTE EU

SIMPLESMENTE EU

Passeei pelo ventre da amada genitora,...

Chutei, relutei e implorei para não me cuspir mundo afora,

Estava tão protegido, amado pela união placentária,

Solitário confortável desconhecia o mundo descrente,...

E num afã de soluços e gemidos, chorei a expulsão libertadora,

Bravo! Que recepção deu-me àquela senhora

Objeto de amor ao novo universo pagaria minha diária.

A infância veio lhes mostrar o ser irreverente.

E num cenóbio espacial, o tal, matou tua criação...

Oh vida prostituta! Premeditava que aqui, não devia estar.

Enfermo desprezei conselhos e procurei a própria direção

Ainda colocou-me num seio que não era o meu lugar!...

Vadiei, perpetrei-me em cada gruta fêmea...

Infringi-me constituindo minha maligna adêmea

Estudei-me,... Servi a pátria buscando guerra

Li e reli até bolinhas de papel amassadas na terra.

Desconhecedor do medo, engatilhado na ponta do dedo,...

Aspirava meu degredo. Como gostaria que viesse bem cedo!

Alguém queria fazer-me de seu brinquedo

Então as atitudes e a língua mordaz explodiram seu torpedo.

Fugi, viajei nômade de dias e noites extremas...

Busquei cultura longe dos hieráticos

Vi irmãos ardendo numa vida que não está em poemas

E os Raul Seixas serem tratados como lunáticos...

Vomitavam sua psicogênese insalubre.

Também ouvi mentes ditarem como nos comportar

Mas seu exemplo era lúgubre

E seu bom caráter, só estava dentro do teu lar.

Tive amigos, traidores inimigos...

Hipócritas entregavam-se ao sistema

E era uma doação R$ satisfazendo ao esquema.

Perdão no meu dicionário não tem abrigo...

Inda mais se vier corrompido de leviandade

Prefiro a brutal transparência da maldade.

Uma coisa que nunca mudará no ser humano

É a má qualidade de ignorar outro ser humano.

Sou, quiçá, o que ninguém quer ser...

E não carrego sentimentos paleontológicos

Inovo-me dia após dia no “ser ou não ser”

E não me venha com reza profana ou necrológio...

O meu ponteiro tonteará em outro relógio

Isento de crenças em deuses mitológicos

Minha cripta é centrípeta no saber

E estou em custódia, alvo num céu sem poder.

A carroça do antropomorfismo é um cinismo

É absconso ver um povo sucumbir

Diante dos mercenários da fé. É tanto fanatismo!

Não têm mais com o que se divertir?!

No areópago terreno faz-se a justiça dos afortunados

Quais vermes pariram esses desgraçados?

Quero desvendar os olhos dessa estátua vil

E não mais saber quem foi à puta que te pariu.

Esse sou eu,... Hidrópico cerebral,...

Cadáver de qualquer matéria orgânica

Húmus de um ser humano temporal

Estropiado na minha epilepsia magnânima,...

Vou enfadando a quem tenho vontade de roê-los

Esmigalhar a consciência do subproduto aparente

Se puder, arrasta-los pelos cabelos...

Subjugá-los na caverna, mostrar-lhe o quão é doente.

Não guardo o que sinto em relicário

E não minto para provar-me extraordinário.

Amo os que me odeiam,... Quero que me saboreiem...

Apreciem sem moderação àquele que despe tua deterioração.

Sou filho de outros sóis copulando com luas desconhecidas

Perecível donde estou,... Dizimado indígena

Navegarei em outro abismo alienígena

Um em que os ETs tenham realidades mais esclarecidas.

Aos verdadeiros amigos e obrigatórios familiares

Meus respeitos e condolências por me aceitarem

Ceifem do seu peito a burrice, a maldade, e a vaidade...

E festejem no meu funeral celebrando a minha sinceridade.

CHICO DE ARRUDA.

CHICO BEZERRA
Enviado por CHICO BEZERRA em 25/11/2011
Código do texto: T3356702
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