Sem Coração
O inverno chegou
E sinto que será eterno dessa vez
Meus dedos já congelaram
E não sinto mais seu toque
Nada mais me comove
Isso torna a neve branca tão chata
Pois eu poderia andar descalça sobre o chão frio
Deixar bater o vento em minha pele sem qualquer agasalho
E não sentir absolutamente nada
Conhece um mundo mais tedioso
Do que aquele em que os maiores desafios
Soam como obstáculos simples
A serem retirados do caminho
Com um simples golpe?
O que fazer quando pessoas
Não passam mais de objetos
Que você move em suas mãos
Acariciando-os até que o cansem
Momento em que resolve enfim jogá-los fora
Ou simplesmente esmagá-los?
Acaso já visitou a corte da rainha do gelo?
Um fortaleza solitária
Em meio ao inverno eterno?
Não há nenhum glamour
E ninguém se aproxima
A não ser quem deseja com pressa
Encontrar a morte
Abrace-me o corpo se desejar o frio
Beije-me os lábios se desejar veneno
Faça-me sorrir se desejar sarcasmo
Mas não venha a mim se ainda tiver um coração
Pois nada poderei fazer senão destruí-lo
Os ponteiros de meu relógio deslizam suavemente
Apenas aguardo a próxima vítima
E nem lembro o porquê desta sádica existência
Sequer estou viva, sinto
Mas minha mente anseia por objetivos sombrios
Tente-me se quiser palavras belas
Porém nem a persuasão mais ardilosa
Arrancará de mim alguma verdade
Perdi meu coração num jogo de pôquer
E se vier até mim
Apostarei o seu
Talvez por não me restar mais nada
Eu desejo tudo
Pelo menos assim terei certeza
De que haverá algo a buscar
Até o dia em que meu corpo morrer
E se juntar ao coração