Morte de Eros
Cabeça baixa
Olhos apertados
Mãos calejadas
Arrancando mechas secas do cabelo
Desespero expresso na face medonha
De mãos mortas o líquido escarlate brota
Goteja em um chão inexistente
O sangue percorre a pele morta
Rendição à agonia insistente
Olhos fechados
Luzes coloridas surgem em um painel negro
Pululam ao roçar das mãos sangrentas
Em pálpebras alvas, mortas
Negligentes à vida
Indiferentes à realidade
Rubros lábios
Rubros da regurgitação de sangue
Rubros do torpor, do êxtase
Rubros de morte
O corpo não é sentido
A mente está perdida
A vida está acabada
Toda a esperança transbordante
Toda a essência do deus Eros
Escapando por fendas abertas
Junto com o sangue impuro
Do pecador que assassinara sua inocência
Entranhas do tórax à mostra
Um coração negro
Pútrido
Morto
Do orifício surge uma cratera
Das luzes pululantes
Surge o negro permanente
O corpo agonizante
Torna-se um nada necrológico
Banhando em líquido purpúreo
Os oficiais analisam a barbárie
Ao lado do nada uma lâmina metálica
Gélida
Prata banhada pelo rubro
Peito aberto e braços cortados
Em todo o corpo um nome abre fendas enormes
Só puderam chegar a uma conclusão:
Sim, trata-se de mais um romanticídio.
(Outubro de 2006)