Insônia

I

As vezes me ocorre, na sucessão diária desses eventos

um sentimento do parto mental de idéias tão complexas

mas com todas partes fundamentais do feto desconexas

sem uma expressão desses meus neurônios tão sedentos

mais que desgraça verdadeiramente filosófica: as viagens,

cosmopolitismos que não são expressas pelas linguagens!

Com as ultimas horas já se passando, vou e me deito

fazia um resumo do resumo do que foi o dia passado

fiquei ruminando um pensamento talvez já ruminado

do rumo que o dia teria se fizesse o que não foi feito

eu me sentia, até em proporções celulares, já exausto

minha palidez se assemelhava ao fantasma de Fausto

Minha mãe passava pela porta desse meu quarto

meu cérebro reclamava o quanto que estava farto

do variado estudo, as frases de sentidos obscuros

eu sentia atrofiar minha massa encefálica na toca

que era minha cabeça, tomando a forma de broca

furava, sem milagre da anestesia, profundos furos

No ativismo sempre frutífero que era a minha insônia

respirava com grande dificuldade, claramente absorto

como se toda aquela atmosfera do quarto fosse amônia

e pisava o caminho achando que o chão plano era torto

a cronologia terrena agia sob minhas mentais faculdades

enquanto meu inconsciente pintava horríveis atrocidades

Nas fantasias invocadas pelo já esgotado gênio

a minha família se preocupava em demasiado

pelo fato dos trabalhos me deixarem cansado

talvez fosse possível me sufocar com oxigênio

apertando meu corpo junto a confortável fronha

tentei ir dormir a noite super agitada e medonha

Sem ter a simplicidade das mentalidades plebéias

rolava de lado a lado atormentado profundamente

só com as exigências de perfeccionismo na mente

e os alfinetes metafísicos que eram minhas idéias

cada um dos projetos era um pedido de clemência

por uma chance a viagem fantástica da existência!

As horas noturnas avançavam no ritmo de um galope

eu me sentia muito desconfortável nesta minha cama

o meu ser era como várias cartas num único envelope

a seda da coberta gruda no corpo suado feito escama

de repente me vem na mente um desejo implicante

usar algumas gramas de um tipo forte de calmante!

II

Aquilo clareava a minha mente como o químico formol

mas chamar este horizonte que agora se pinta na janela

de “noite” seria loucura, pois com a beleza da aquarela

via um rosa dos quentes raios do antiqüíssimo astro Sol

Repondo a negritude sem a rudeza que são as remendas

cada planeta minúsculo que eram estrelas do firmamento

acabava todo seu brilhar, num apagar naturalmente lento

enquanto um cacarejar do galo acorda donos de fazendas

dou adeus a cor que por original associação me lembrava

a cor da pele de um povo antigo que sofria numa senzala

Sinto sono enfim, e no ataque instantâneo do choque elétrico

a minha língua confunde água limpa com um vinagre ascético

eu ensaiava meu último adeus para aquelas sinapses festivas

a belíssima reação biológica que definitivamente nos separa

de todas as outras criaturas, que nos acalenta, nos desampara

enfim, a única coisa que nos permite dominar as coisas vivas

Minhas vistas já estavam ensangüentadas com a pressão interna

de ter que sustentar minhas duas pálpebras em pé por várias horas

ambas as órbitas oculares adquirindo a forma particular de amoras

depois do trabalho insano de encher com lágrimas minha cisterna

e na metade do outro dia, no milagre geograficamente horizontal

que é se deitar na cama com sono, eu finalmente curo o meu mal

Com a minha primeira iniciativa de relaxamento, eu vou e ensaio

toda a fluidez de cênica beleza na forma de um corpóreo desmaio

e dava graças ao bom Deus por meu sono dessa vez não ser falho

via toda a minha canseira muscular obter proporções tão gigantes

nem sequer notara que meu corpo e a cama eram dessemelhantes

rasgava todos os fios de seda da minha coberta em meros retalhos

Como que por uma vingança verdadeiramente infantil do meu cérebro

por ter impedido a força todos os ciclos aparentemente salutares

ele, após todo o ocorrido, continuava com suas construções celulares

ia fazendo as bases do sonho árduo, um calvário onde eu me quebro

Será mesmo que nem dormindo, desse meu órgão nefasto terei paz?

Perguntei de mim para mim, sem saber se aquilo era verdade ou não:

será que até mesmo os braços de Morfeu não quebram a prisão

do raciocínio, maior que todo o sistema carcerário da antiga Alcatraz?

Fora de controle, uma voz oriunda da caverna do meu subconsciente

área obscura de nós mesmos que não se submete a nenhuma gente

disse: “ tolo, reclamas de insônia o dia inteiro, sem saber o que isso é”

“se tudo aquilo que tens vivido no chamado 'dia passado' é real”

“não sabes se é verdadeira a sensação do estado de coma fatal”

“diz agora, projeto de inteligência confusa: estás dormindo ou de pé?”

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 12/11/2011
Código do texto: T3332013
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