Um longo sonho

Eu já não explico a sensação bizarríssima minha

ânsias de vômito sem comida alguma no ventre

não ter nenhuma fome e mesmo assim vir parar entre

o vão estreito das bases da porta de uma cozinha

Voltando ao meu quarto, sem rédeas e meio confuso

desço longos vôos de escadas, o corrimão entre elas

meus olhos fatigados desenham um parafuso

com linhas que eu jurava sempre serem paralelas

Ardendo em febre, chego ao Oásis da minha cama

olho o relógio, se passou dois minutos inteiros

angustiado noto que a curvatura dos ponteiros

lembram todo o surrealismo de Dalai Lama

Será que ainda é possível ter alguma utilidade

na minha clara suspensão da racionalidade

tudo em redor e derredor teima em refutá-la

trago nesta laringe, gritos,os mais longos brados

estou surdo para os ecos que morrem sufocados

na área randômica que tinha ares de uma sala

Esperneia o íntimo, não sabendo se um dia vêm

um borrão sinalizando o fim do sonho e ninguém

percebe o quanto que toda esta anarquia é inválida

eis que acorda a minha pálpebra nervosa e pálida

Primeira visão do mundo real, abençoada

uma curta biografia lida na noite passada

nos livros de Edgar, confesso que aprendi muito pouco

das viagens inverossímeis escritas por este poeta-louco

Na primeiríssima base real onde os meus pés ponho

testo o piso pra ver se o chão não sede

mesmo assim empiricamente nada impede

que seja tudo um longo sonho em outro longo sonho

Ernani Blackheart
Enviado por Ernani Blackheart em 08/11/2011
Reeditado em 22/12/2011
Código do texto: T3325043
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