O Chamado
Eu lhe disse que o mar uma noite me chamou
Eu sei que nisso você não acreditou
Mas eu sei que os ventos estavam lá
E certos sentimentos não vêm de pouco pesar
Velhas memórias que se apagam
Ditadores de loucura se propagam
Esperando no alto da montanha
Pedintes abaixo tantas mentiras já apanham
Antes da chegada do último quasar
Nas brumas o mago sua capa a agitar
Aquário em punho portentoso âncora sustenta
Novo sangue traz que à Terra rebenta
Côncavo de luz a me espreitar
Feixes de celuloide a me controlar
Sinto que em mim voltaram as chamas ardentes
Como papoula em manipulação eterna da mente
Sei agora mais do que nunca: chama-me o mar
Tormenta agita a costa, não vão mais os ventos parar
Sem mais labirintos a me dividir
Não mais ordeiros divinos ditam-me aonde ir
Chama-me verdadeiramente e já não me posso deter
Adentra-me a rebeldia e já não me importa morrer
Porque sinto-me voltando ao meu primeiro leito
Não importando tampouco seja meu último feito
De onde tiraram-me a doçura do amor
Parto já despido de falso pudor
Que da vida já carrego somente destroços
E do verdadeiro chamado declinar já não posso