DORES DA ALMA

A Noite cai como um manto negro do lado de cá da América

e espalha sobre os abismos, as altas montanhas seu véu escuro

juntamente com o mais absoluto silêncio.

Encontro-me dentro do meu velho e feio quarto.

Entre longas horas de completa clausura eu estou em meu leito.

A insônia adentra meu inquieto espírito.

Estou receoso de não poder ver o amanhecer do novo dia

que me acena misteriosamente com um lúgubre espectro.

Sinto-me suar por todos os meus poros.

O sepulcral silêncio faz-me contemplar quatro parede brancas

com uma agonia e um imenso terror sem fim.

Rolo em minha cama buscando ilusória paz.

Na verdade, todo meu ser imediatamente se assombra.

Estou abismado com a sorte do futuro incerto

e da intensa agonia nos porões do meu amago.

Parece que já me vejo logo a morrer.

A dor nos meus ossos é longa e intensa.

Agiganta de imediato uma sombra na parede branca.

Vejo-á manchada pelo negro da noite quente e sem brisa.

Ouço agora o barulho lá da rua e sinto enorme tristeza

por não estar lá fora com os meus amigos de juventude.

Vem pois!... Comigo inferno de gigantes!

Vem encher meu peito com os seus constantes açoites.

Vem!... Vem agora pra cá Dante dos infernos!

Mostra-me ó Panteon dos deuses!

Mostra-me a furiosa marcha do fim dos tempos.

Deixa-me Hades maldito!

Deixa submergir as dores da alma.

Vem de imediato sentir as vagas da agonia

transformar em enormes tentáculos do medo.

Ó Milton do Paraíso Perdido!

Milton que diz preferir reinar no inferno...

Traz-me seu canto mais nobre e belo

para aplacar o meu desejo profundo,

o impeto de um longo e demorado beijo

da donzela amada que sinto saudade.

Vem pois! Dores da alma!

Vem ó insana epifania!

Encontro-me cá dentro do mundo dos mortos.

Sinto intenso a agonia sem fim do medo.

De suor está minha cama toda molhada.

Diz ó gente dos navios negreiros!

Por quê ó dores da alma morro sozinho?

Uma voz na escuridão assombra:

_ É porque uso do meu livre arbítrio

para sua existência funesta apagar...

Ó homens políticos e bandidos nas trevas!

Gladiadores infernais do pânico

laceraram meu ser com dores de agonia.

Quem pode mitigar minha dor?

O viço da juventude já se foi...

Minha carne e meus olhos inteiros dói.

Enfim com dores da alma o meu último suspiro

é um ai.