SERPENTES

SERPENTES

Tingirei você em mim.

E a tinta, que azul para meus olhos...

me penetrará pelos poros

a misturar-se no sangue sedento

e florirá jardins de violetas roxas,

cujos caules crescerão acelerados

e se erguerão a dilacerar-me o cérebro.

Então, as violetas se multiplicarão

famintas, incontidas e absolutas

e devorarão as células vulneráreis.

Respirarei a silhueta ilusória de você

e viajarei em sua balsa de eucaliptos,

num rio denso de cogumelos pálidos.

E suplicarão minhas veias ressecadas

por suas águas delirantes de morfina.

E farei morada em seu mundo de loucuras...

E as violetas roxas floridas nos jardins,

regadas com sangue convertido em lava,

afloradas na pele sem viço...

E meu coração, embriagado de você,

adormecerá. Adormecerá eternamente...

sob as violetas roxas, disfarces de serpentes.

(Primeira publicação em 28 e maio de 2009).

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 04/10/2011
Reeditado em 15/05/2017
Código do texto: T3256506
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