ENGANO

Nao canto a Morte, nem faço odes á Parca

é minha sina lembrar aos humanos da barca

onde Caronte os espera...

Meu canto é Vida, pois que mais a morte gera

se nao o nascimento a cumprir Sansara?

Vim pela Palavra...pela verdade tão rara

embora ecoe n'alma impressa como marca

é fugidia, é do Tarô...a Carta.

Permaneço entre o Tempo e o Espaço

a registrar da humanidade os passos

como escriba a eternizar as Dinastias

que se findaram, mumificadas, todavia.

Qual Prometeu...acorrentada a uma Quimera

sentindo as dores do parto de tantas feras

libertas pela ignorancia e pelo medo atroz

que se faz senhor, é carrasco, mais...é algoz.

Contem tua espada, nao sou ameaça, nem perigo

trago nas mãos uma oferta para contigo

celebrar o entendimento, mas nao a paz

pois esta só a tem, quem no coração a traz.

Sou a que porta em suas entranhas

crime e castigo pelas tuas façanhas

Óh ser humano, tão bom...tão puro

causa-me asco esse teu sangue impuro

essa jactãncia na própria realeza

nunca estiveste mais longe da nobreza

que quando nela se escuda e mascara.

Passam os séculos, escoem as areias

e tu, criatura cuja divindade anseia

pela libertação desse fardo que é a vida,

erra e torna ao erro sem senso ou medida.

Estás ébrio pelos festivais de Baco...

fostes ludibriado por Hades num falso trato

e como Orfeu serás vencido por teu ego...

lamento por ti, homem, arrogante e cego.

Cobram-me os deuses as palavras pejorativas

que ora uso em meus descritos, tão incisivas

versando sobre teus defeitos mais que humanos

ja que nao posso elevar-te até onde devias estar,

entre os arcanos.

Que assim seja, dirão os sábios que ja nao sei cantar

deitarei por terra minha lira, seguirei ao léu

maldita dentre as Musas, Pégasus descerá dos céus

pisoteando as rochas fenderá fundo a terra

e as profundezas serão a prisao que me encerra.

Pela eternidade elevarei dos abismos

lavas incandescentes levantarão os cismos

e o troar do vulcões serão meu canto

e a dor da terra traduzirá meu pranto

eu que por mostrar a besta em cada coração humano

fui condenada a vagar entre o que é santo e o profano

ecoando a dor e a miseria que ninguem quer ver...

se o destino é a Vida, nao é engano ter que morrer?