Memórias na Vidraça do Carro

Foi levado para um caminho sem volta.

Andou… Querendo voltar pra casa.

A vida passou em um instante. E só por esse, escolheu não chorar.

Vozes ecoando na estrada,

memórias na vidraça do carro.

Pediu carona, mas sua loucura não entrava à porta do automóvel.

Tentou chorar, mas ainda restava paz.

Tentou sorrir, se não fosse o medo.

Tentou gritar, mas a voz não saía.

Não tinha o que dizer, a incerteza o engasgava.

E ninguém pra escutá-lo.

Um caminhão surge na linha do pôr do sol.

Pediu pra ser levado por inteiro, com incerteza e tudo.

Foi ignorado.

Mas a certeza do sonho relutava em fazê-lo continuar à caminhar.

Tentou voar, mas não tinha a graça de um passarinho.

Passou, passo a passo.

Pôs nas costas sua loucura e no bolso, seu amor.

Pediu pra que levassem apenas sua loucura,

foi chamado de louco.

Chegara a noite,

e com ela, a amargura da solidão.

O abandono que te entristecia.

Gritou pelo nome de sua filha,

nada escutou.

Não passava ninguém naquela rodovia à noite,

só o desespero.

Veio a vontade de parar a caminhada, acabar.

Sua muita idade não contribuia,

o peso da loucura fizera doer suas costas.

E o amor desiludido já não valera mais nada.

Veio a ingratidão,

que fez lembrar o rosto de sua filha.

Percebeu que não estava em estrada alguma,

apenas em um quarto de asilo.

Sentou na cama,

foi acalentado pelos lençóis

e sentiu o cheiro de fracasso no travesseiro.

Então chorou,

tudo o que mais quis foi voltar pra casa.

Mas seu orgulho não colaborou,

achou que ninguém o amava.

Voltou a caminhar pela rodovia,

e por lá, encontrou uma praça.

Um lindo chafariz e uma bela roseira.

Sentou no banco e ficou à esperar um abraço de sua filha.

Foi deixando-se consumir pela loucura.

Naquela cama,

o que mais tarde viria a ser o seu leito de morte.

Lucas Mezz
Enviado por Lucas Mezz em 10/09/2011
Reeditado em 12/09/2011
Código do texto: T3211983