Memórias na Vidraça do Carro
Foi levado para um caminho sem volta.
Andou… Querendo voltar pra casa.
A vida passou em um instante. E só por esse, escolheu não chorar.
Vozes ecoando na estrada,
memórias na vidraça do carro.
Pediu carona, mas sua loucura não entrava à porta do automóvel.
Tentou chorar, mas ainda restava paz.
Tentou sorrir, se não fosse o medo.
Tentou gritar, mas a voz não saía.
Não tinha o que dizer, a incerteza o engasgava.
E ninguém pra escutá-lo.
Um caminhão surge na linha do pôr do sol.
Pediu pra ser levado por inteiro, com incerteza e tudo.
Foi ignorado.
Mas a certeza do sonho relutava em fazê-lo continuar à caminhar.
Tentou voar, mas não tinha a graça de um passarinho.
Passou, passo a passo.
Pôs nas costas sua loucura e no bolso, seu amor.
Pediu pra que levassem apenas sua loucura,
foi chamado de louco.
Chegara a noite,
e com ela, a amargura da solidão.
O abandono que te entristecia.
Gritou pelo nome de sua filha,
nada escutou.
Não passava ninguém naquela rodovia à noite,
só o desespero.
Veio a vontade de parar a caminhada, acabar.
Sua muita idade não contribuia,
o peso da loucura fizera doer suas costas.
E o amor desiludido já não valera mais nada.
Veio a ingratidão,
que fez lembrar o rosto de sua filha.
Percebeu que não estava em estrada alguma,
apenas em um quarto de asilo.
Sentou na cama,
foi acalentado pelos lençóis
e sentiu o cheiro de fracasso no travesseiro.
Então chorou,
tudo o que mais quis foi voltar pra casa.
Mas seu orgulho não colaborou,
achou que ninguém o amava.
Voltou a caminhar pela rodovia,
e por lá, encontrou uma praça.
Um lindo chafariz e uma bela roseira.
Sentou no banco e ficou à esperar um abraço de sua filha.
Foi deixando-se consumir pela loucura.
Naquela cama,
o que mais tarde viria a ser o seu leito de morte.