AH, TE ABOMINO, DESILUSÃO!
Esta taça de fel do desamor
é dura de beber!
A cabeça vira um turbilhão
e a boca entorta de desgosto
A vida enfarta, sucumbe
os olhos viram do avesso
A pele encurta
e a gente crescendo assim
por dentro...
E contemos o vômito
desta matéria cáustica
indigesta e mórbida
como infelizes e gulosos
comedores e ruminadores
do irremediável
Poetas ultra-românticos a beijar
a noiva morta e fria
Belos versos de Álvares
obscuridade sob alvos círios
amor exacerbado em morte
no altar da insanidade
Passado já pretérito
não moverá moinhos
Apenas travará os passos
deitará raízes dos nossos pés
e nos aprisionará ao
piso comum dos deserdados
dos românticos inveterados
a chorar malmequeres
Um brinde ao desamor
um brinde ao masoquismo
deste cultivar de amores perdidos
ao triste fim de Policarpos
de Julietas e Abelardos
Um brinde à bela massa falida
em tons cinza chumbo
caixa emborcada sobre o coração
ah, te abomino Desilusão!
Cola grude a travar os dedos da mão
guarda-chuvas ao sol de janeiro
baleias em banheiras azuis
extravasamentos estúrdios
lenços molhados de lágrimas
sim, sempre isso ainda...
e me dizes que o romantismo
é invenção... é burla
um modismo?
ah, estas tuas máscaras de racionalismo
que não cobrem meia cara!
E me dizes que o amor é prejudicial
e no entanto amas e choras
com tua alma de mortal
e então quem és tu que
sempre voltas a beber
das mesmas águas turvas
o que é para ti o amor, afinal?