A Marimba de Vidro
Analisando o nosso planeta
Limitados dia e noite ferviam
Talvez tenham ouvido sobre a tal empatia
O limite de tempo de cada um
O limite de pão de cada dia
Dentro dos seus horários intercalavam
Mas num dia desses em que é noite
Lua e Sol
Optaram pela contramão
Ao rei do mundo enviam uma carta
“Agora nós vamos também opinar,
Esses homens em nós vêem tanta beleza
Mas daqui de cima vemos tanta injustiça.
Gostaríamos ó Nobre Alteza
De lhes promover o caos.
Daqui vemos que não existem iguais entre a mesa
E a ceia não cobre a toda fome que sentem.
Se Vossa Senhoria falas por um no Vaticano
Falemos nós dois por todos os homens.
Nossa meta é penetrar nos corações humanos
Para que gritem e vocalizem nossas ações.
Caso tenhas alguma indecisão sobre nosso pedido
Saibas que não é um pedido
É uma decisão tomada.
Estamos prontos a romper com a ordem.
E terás toda a liberdade
De tornar esta carta
Uma carta de demissão.”
O dia iniciava uma festa esquisita
Brasas caíam do céu
Chegando pertinho do rosto
Queimavam as pontas do cabelo
E sopravam no ouvido de cada um dos inquietos
“É hoje que tu vais cantar.”
E a minha marimba de vidro
Escondida debaixo dos seios
Tremia meus pés
Era o início e o fim do meu corpo
Que as teorias ateístas o tenham
Ou que Deus ou o cosmos o queiram
E quanto mais o fogo se aproximava
A marimba enchia meu peito de ar
O fogo chegaria
Com seus propósitos
Tombaria a gente no chão da Terra
Furtaria da gente a água da Terra
Dançaria a todos no giro da Terra
Súbito chegou o Sol
O fogo estacionado entre as pernas
Estilhaçava a marimba de vidro
E soprava no vento estilhaços gemidos
Nos cacos de areia o fogo remendava
Chamas azuis riscando espadas amarelas
E a marimba de vidro pesava na base
A marimba de vidro perdia a postura
A marimba de vidro quebrada no meio
No meio da rua
Descobre meus seios e minha alma
Grita o que vê
Alto se expande
Engole a todos do mundo
No mundo inteiro
Invade as paredes finas do hospício
Esconde o seu riso irônico
Nos cubos vermelhos do anel do papa
Suja as bandeiras todas de branco
E dança o dinheiro pra fora dos bancos
Reclama solene nos plenários
Interrompe o sermão dos pastores
Estende a mão a santos caídos
E grita no palanque da vida
Sem medo das opressões
Política
Religiosa
Ou da mídia bandida
Que a água na boca da Terra é suja
E os cortes finos das fagulhas de sol
Estão acima do nariz empinado daqueles que mandam
Repicam de luz os cabelos castanhos
Deitados no quarto vivendo a vida
Ritmados no vai e vem da harmonia
Aos homens armados que buscam estanho
As ordens e a força daqueles que sonham
Sopram às nuvens verdadeiros desejos
Desejos que o dono do céu julgaria estranhos
Morais desnudas chovem a noite
O vapor que sopra na rua é quente
Sufoca e aumenta um balão de ar
Que cai como ficha diante dos olhos
Fixados olham-se soltos no espelho
E atinge o orgulho num golpe tarado
Acerta no meio sem calma e esfrega
Num rosto cor de rubi
A verdade de si afastada do mesmo
Presa num canto desde o nascimento
A desordem da vida e do pensamento
Escritos em cada regulamento
Espalhados Lua e Sol ferviam
Invadiam as casas
As auras
E as freiras
Que o fogo juntou e desconstruiu
Queimou e amou
A muitas abriu
Alas e portas que não vão fechar
Com os olhos abertos
Queremos entrar
Num todo pequeno
Ao todo tão grande
O que para e não paira
Sem discrição
Invadam agora o centro da Terra
E cubram-na com as suas mãos
Energias agora formam a roda
De mãos dadas nuas e cruas
Remendam-se óbito e certidão
E dançam na lua
Que chove o fogo
E o fogo não pára
Só continua
Para sempre entre nós
Queimando
Você
Cansados e roucos de tanto bufar
Fizeram o milagre
Fizeram-nos nos soltar
Sol e Lua voltaram para casa
Respostas ainda não receberam de Deus
Nem cartas, castigos ou suspensão
Por via das dúvidas estão preparados
Levaram consigo os sons inconstantes
Cacos de uma marimba de vidro gritante