ORVALHO E DESVARIOS
Lua esplêndida!
Fulgurava nos teus olhos
um brilho de punhal afiado
Eu te seguia, narinas arfantes
feridos os pés andarilhos
sal e sangue nas entranhas
Abrias caminho
retalhavas os enigmas
tua mão era guia
o teu peito, morada
Eu e tu, errantes passageiros
da paixão
recortados na mesma pedra
madrugada de orvalhos
de água benta e desvarios
centelhas da mesma fogueira
notas do mesmo acorde
ardendo em uníssono
Esplendorosa Lua!
Que inspira a calorosa chama
resplendece os brancos jasmins
e a alvura da pele nua
exposta e entregue ao fascínio
das doces transgressões
Queimar por dentro até sangrar
vidraças partidas
nas entranhas
andar para dentro
sem temer as próprias águas
ir bem ao fundo
aonde se guardam nossos
mais temidos retratos
Funduras do nosso ser
avessos dependurados ao afago
do amor sem medidas
Funduras do nosso olhar
gargantas expostas no grito
fogo de ardentes brasas inflama
cadência dos corpos hirtos
premências que a vida clama
nós dois amantes proscritos
à sombra dos jardins
o fruto maduro do gozo
espremido na pele
na boca, nos beijos trêmulos
nas rendas que revelam
à luz de sonolentas velas
mansidão de carnes saciadas
Magnífica lua!
alvuras de pele em êxtase...
Estremece de amor a madrugada!