PONTE SOBRE O TEMPO

Um vento levíssimo

Enverga as hastes que sustentam o silencio na tarde fria

A brisa sutil, intermitente, corre despenteando a relva

Ao longe uma garça se exibe alvejando a tarde,

Quase um balé em câmera lenta!

Suas asas se esgarçam sobre a realidade submersa do dia.

As horas são vagarosas e parecem patinar no lodo escorregadio das pedras.

Nos galhos do mamoeiro, uma salamandra descuidada cochila, sua pele da mesma cor do galho a faz despercebida,

Meus olhos, antes tão perfurantes,

Agora são faróis enfraquecidos nas vidraças da vida.

Eles testemunham o simétrico fluir do tempo, nos passos assimétricos da natureza

Tudo segue seu curso predeterminado, a tarde avança, fechando as pálpebras do dia, suavemente

preparando a entrada da noite sem rumo

Como uma mariposa descuidada, como se alguém fechasse de repente as cortinas do quarto

e assoprasse a luz da vela sobre o aparador.

A noite é sempre misteriosa, ela ocupa seu espaço sem explicações nem olhos.

Eu sinto seu hálito e seu beijo, nos planos do meu rosto

Não é um beijo de amor mas um beijo de quem já me conhece e apenas me saúda!

Enquanto o tempo escorre... la fora, os vaga-lumes,

estas pequenas estrelas faiscantes. que evocam na brevidade do seu brilho,

O despedaçar dos nossos sonhos,

Riscam inutilmente de luz, as paredes escuras da minha alma!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 06/08/2011
Reeditado em 10/08/2024
Código do texto: T3143019
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