PONTE SOBRE O TEMPO
Um vento levíssimo
Enverga as hastes que sustentam o silencio na tarde fria
A brisa sutil, intermitente, corre despenteando a relva
Ao longe uma garça se exibe alvejando a tarde,
Quase um balé em câmera lenta!
Suas asas se esgarçam sobre a realidade submersa do dia.
As horas são vagarosas e parecem patinar no lodo escorregadio das pedras.
Nos galhos do mamoeiro, uma salamandra descuidada cochila, sua pele da mesma cor do galho a faz despercebida,
Meus olhos, antes tão perfurantes,
Agora são faróis enfraquecidos nas vidraças da vida.
Eles testemunham o simétrico fluir do tempo, nos passos assimétricos da natureza
Tudo segue seu curso predeterminado, a tarde avança, fechando as pálpebras do dia, suavemente
preparando a entrada da noite sem rumo
Como uma mariposa descuidada, como se alguém fechasse de repente as cortinas do quarto
e assoprasse a luz da vela sobre o aparador.
A noite é sempre misteriosa, ela ocupa seu espaço sem explicações nem olhos.
Eu sinto seu hálito e seu beijo, nos planos do meu rosto
Não é um beijo de amor mas um beijo de quem já me conhece e apenas me saúda!
Enquanto o tempo escorre... la fora, os vaga-lumes,
estas pequenas estrelas faiscantes. que evocam na brevidade do seu brilho,
O despedaçar dos nossos sonhos,
Riscam inutilmente de luz, as paredes escuras da minha alma!