À Olho Mágico e Nu

Uma tarde de silêncio mental.

Respiração imperceptível.

Meus vizinhos de cabeça vazia berravam sobre coisas inúteis em suas sacadas,

A seus vizinhos de coisas inúteis.

Seus cachorros latiam desesperadamente por um campo.

Talvez fosse a neurose frenética do salto alto de suas donas no assoalho.

Suas serviçais fumavam nos degraus do prédio.

Os homens do gás iam e vinham,

Os homens da água,

As mulheres das unhas dos pés e mãos das outras mulheres prédio.

Abriam-se janelas, fechavam-se janelas.

Isto estava em relação às janelas em frente,

E a distância mínima pra enxergar os pecados cometidos dentro de suas casas.

Empurravam a porta do elevador os garotos que acabaram de descobrir a masturbação

E também as garotas que insinuam não praticá-la.

Cada um em seu bloco.

A geometria da classificação social.

Somos blocos de uma sociedade alternativa sem muita alternativa.

Dentro do prédio nossa moral está em alta.

Enquanto basta abrir a porta onde o olho mágico está pelo lado de dentro,

Para nossos escrúpulos esvaecerem como verdade em procissão.

Óli
Enviado por Óli em 03/08/2011
Código do texto: T3136946