O canhoto

A dor que compromete tua alma

Transfere-se para o teu corpo

E acaba por libertar-te só depois de morto

I

A dor se tornara bem-vinda

Inspiradora, sublime, fatídica

Tudo que fiz foi permitir

Deixei-a se acomodar, não vou mentir

As lágrimas não mais saiam

A tristeza encontrara um orifício em mim

E lá se alojara, pondo um marco

Em minha vida, iniciava-se alí o meu fim

Ficaram marcas doloridas, ilibadas

Profundas e não cicatrizadas

De uma vida, um sonhar

Morto pela realidade ao despertar

Queimei as lembranças todas

No fogo que profanou minh’alma

Desatou-me a vida, ilusoriamente

E petrificou meu coração, tão verdadeiramente

Que morri, morri por dentro, e continuo sofrendo!

II

Não penseis que é egoísmo

Só peço a vós a alforria

Desta alma triste e doentia

Que só quer um leito pra livrar-se da agonia

Pois não posso mais evitar o impasse

Ou exaurir-me, enfezar-me ao criar

Tantos subterfúgios e falsos sorrisos

Quando, na verdade, estou beirando o abismo

Pois ardilosa é a tristeza

Implexa é a verdade

Que me arrebata do sentimentalismo

E leva-me de volta à realidade

Aqui estou, a chuva molha-me os cabelos

Lava meu coração com desejo

Meus últimos batimentos são de anseio

A mão esquerda puxa o gatilho

E no átimo da dor sinto-me líbero.

Duda Checa
Enviado por Duda Checa em 31/07/2011
Reeditado em 24/08/2011
Código do texto: T3129769
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