SANTO DO REGO
Santo do Rego era um louco
Que perambulava pelas ruas
Balbuciando palavras desconexas,
Jogando beijos para a lua
Descalço, nunca trocava de roupa
Emitia grunhidos, era manso de coração
Tinha os olhos dispersos no ar
Quase mudo, falava com as mãos
Juntava o dedo médio ao polegar
Dava piparotes nas cordas vocais
Forçava uma silaba presa
Ressoando a vibração dos ais
O povo do lugar o excluía
Tratavam-no como um cão
Indiferente, ele seguia sua sina
Sem porque e sem razão
Ninguém entendia o seu mundo
Que todos achavam enfadonho
Um ser sem alma, aprisionado
Nos porões de um destino medonho
No entanto ele sempre sorria
Sem esperar retribuição
Um pássaro dos olhos arrancados
Condenado a andar pelo chão
Um dia de repente ele partiu
Eu me lembro ainda era menino
Uma carroça levou o seu corpo
Uma cova rasa selou seu destino
Quem era Santo do Rego afinal?
Um teste para a piedade e a compaixão?
O infortúnio mostrando sua face cruel
Para que lembrássemos do perdão?
Santo...Santo.. aonde andaria você?
Um gauche, oblíquo, torto e caído
Vagando pela minha infância
Como um anjo doce e perdido
Se pudéssemos ter visto sua alma leve
Por detrás daquele véu tão bisonho
Veríamos que as dores nunca entraram
Em tua mente, casulo indevassável de sonho!
Na verdade...Você deveria rir de todos nós !!
Seres mundanos, presos ao visgo do metal
Não foste tu tão doce, indagarias por certo:
- Ai irmãozinhos? Quem era o louco, afinal?