SANTO DO REGO

Santo do Rego era um louco

Que perambulava pelas ruas

Balbuciando palavras desconexas,

Jogando beijos para a lua

Descalço, nunca trocava de roupa

Emitia grunhidos, era manso de coração

Tinha os olhos dispersos no ar

Quase mudo, falava com as mãos

Juntava o dedo médio ao polegar

Dava piparotes nas cordas vocais

Forçava uma silaba presa

Ressoando a vibração dos ais

O povo do lugar o excluía

Tratavam-no como um cão

Indiferente, ele seguia sua sina

Sem porque e sem razão

Ninguém entendia o seu mundo

Que todos achavam enfadonho

Um ser sem alma, aprisionado

Nos porões de um destino medonho

No entanto ele sempre sorria

Sem esperar retribuição

Um pássaro dos olhos arrancados

Condenado a andar pelo chão

Um dia de repente ele partiu

Eu me lembro ainda era menino

Uma carroça levou o seu corpo

Uma cova rasa selou seu destino

Quem era Santo do Rego afinal?

Um teste para a piedade e a compaixão?

O infortúnio mostrando sua face cruel

Para que lembrássemos do perdão?

Santo...Santo.. aonde andaria você?

Um gauche, oblíquo, torto e caído

Vagando pela minha infância

Como um anjo doce e perdido

Se pudéssemos ter visto sua alma leve

Por detrás daquele véu tão bisonho

Veríamos que as dores nunca entraram

Em tua mente, casulo indevassável de sonho!

Na verdade...Você deveria rir de todos nós !!

Seres mundanos, presos ao visgo do metal

Não foste tu tão doce, indagarias por certo:

- Ai irmãozinhos? Quem era o louco, afinal?

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 16/07/2011
Reeditado em 06/12/2017
Código do texto: T3098727
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.