Perdição

Caminha o anjo pela sombra,

suas asas cintilam.

Da lira flutuam,

doces melodias para acalentar meus sonhos.

Me conduza por incógnita vereda,

aponta então o caminho que este espectro deve seguir.

Flameje ó anjo da tempestade,

castiga a ruína de minha alma com teus raios.

Tuas lágrimas purificam o lodo em meus pés.

Na penumbra desejei que tua mente fosse minha,

e se eu pudesse domar teu espiríto jamais me deixaria.

Minha quimera se voltou contra mim,

o feitiço dos teus lábios me envenenou.

Numa redoma de vidro me prendeste,

tuas mãos,nem posso toca-las.

O palor daquela pele não é mais meu,

pois o ódio me fez partir o cristal,

das sobras rasguei-lhe a garganta.

Agora sois o amado da morte,

encontrei de novo minha liberdade.

Louca que me tornei lanço agora,

ósculos à solidão.

Tragado pelas trevas meu corpo afunda,

na bruma escarlate e estéril minha alma voa.

Das nuvens gargalhando contemplo,

a campa infértil e fria onde sepultado foi meu coração.