Despalavramento
Despalavraram o humano
Um mano já não é tão fraterno
A fúria do progresso automatizou o verbo
Reduziram o texto a cifrões desmesurados
Despalavraram os sonhos
Os loucos são menos insanos
As nuvens, outrora de algodão, chovem ácidas
Transformaram fantasia em pesadelo
Despalavraram o riso
Já não se ri sem compromisso
A solidão assola a saudade
Censuraram pegadinhas e piadas
Despalavraram o prazer
Já não há tesão no fazer
A tensão corrói o buraco
Esvaziaram os significados
Socorram-nos os poetas
Ressuscitem os profetas
Bem ditas letras, uni-vos!
Exclamem seus pontos dos eirados!