Onze avos de mim

...

eu caminho entre as vozes dos demônios

e me ponho

no lugar de pobre fadigado

e sem sonhos

que se os tenho não me lembro

e se me lembro

não os tenho

como algo preciso

que eu precise para a vida,

pois são abismos e vultos

soltos

no ar

é como a imagem do mar

negro

com gosto de fel

carregando no fundo a moça do bordel

morta

que me deu onze minutos de prazer

e me partiu em onze pedaços de mim

sendo que eu sou agora onze avos do que eu era antes

quando eu ainda tinha onze anos

e não sabia

que necessário seria

comprar amor nas casas da esquina...

eu caminho entre almas depenadas e penadas

que outrora carregavam

o arrependimento

eram felizes, pecadores e amavam

as pessoas

a vida

e até o sofrer

que hoje ainda amam-no pois nada podem fazer

a não ser,

sentirem desprezo

pela vida

que levaram sem o pecado vencer

eu caminho

errantemente mas vivo

e uivo

um lamento aos céus

e imploro

uma redenção

que me tire dos zumbis

e me coloque na trilha dos anjos

onde eu possa

ser querubim

e não onze avos de mim

Vagner Pitta
Enviado por Vagner Pitta em 01/12/2006
Reeditado em 01/12/2006
Código do texto: T306621