Onze avos de mim
...
eu caminho entre as vozes dos demônios
e me ponho
no lugar de pobre fadigado
e sem sonhos
que se os tenho não me lembro
e se me lembro
não os tenho
como algo preciso
que eu precise para a vida,
pois são abismos e vultos
soltos
no ar
é como a imagem do mar
negro
com gosto de fel
carregando no fundo a moça do bordel
morta
que me deu onze minutos de prazer
e me partiu em onze pedaços de mim
sendo que eu sou agora onze avos do que eu era antes
quando eu ainda tinha onze anos
e não sabia
que necessário seria
comprar amor nas casas da esquina...
eu caminho entre almas depenadas e penadas
que outrora carregavam
o arrependimento
eram felizes, pecadores e amavam
as pessoas
a vida
e até o sofrer
que hoje ainda amam-no pois nada podem fazer
a não ser,
sentirem desprezo
pela vida
que levaram sem o pecado vencer
eu caminho
errantemente mas vivo
e uivo
um lamento aos céus
e imploro
uma redenção
que me tire dos zumbis
e me coloque na trilha dos anjos
onde eu possa
ser querubim
e não onze avos de mim