Maldição
Eu deusa? Não! Cismo que nunca hei de chegar a tal patamar
Sou apenas a moça…
A moça sonhadora e hiperativa, escondida nos arredores
De um interior que nada move, nem move ninguém.
Aqui tudo é muito estranho, mortificado...
Não há lugar para os cultos, não há lugar para os quietos.
Os seres são obcecados pelo poder, pelos julgamentos e pela vida alheia.
Percebo as pessoas que se perdem facilmente em labirintos, enganando-se
Iludindo e desiludindo-se… Ah, esses frequentadores de coisa nenhuma
Cochicham uns dos outros, blasfemam, fazem cócegas em seus demónios interiores.
As vezes tenho a impressão de que o céu foi consumido por esse inferno.
As vezes sofro as minhas inquietações , e chego a odiar as lutas que perco.
São tantas as lutas que perco, que já nem sei se sei ganhar alguma.
Sombras me enganam, chegam mansamente como a noite
Acendendo-me estrelas de esperança, que pouco a pouco apagam-se.
Queria gritar!
Queria dizer: Fodam-se todos vocês, foda-se esse diabo que mora no meu teto, e que tanto me perturba. Sei que em seu salto alto acende cigarros e rir de minhas inquietações…
Ele tem um cão amarelo que prendeu na sua coleira o destino mutável, estamos enterrados aqui…
Onde é sempre verão, quente e desgrenhado.
Ah, inércia covarde!
Algum dia hei de jogar-te janela abaixo,
Pisar-te, até que teu sangue escorra com a lama que aqui corre a céu aberto…
Oh, vida, venha
Venham lentamente sem fim.
Deslumbre-se, detenha-se
Resida em mim...