Castelo repetido
Castelos de areia se desfazem
Quando sem querer pensando, nos entregamos
E aparecemos assim nus perante o mundo
Com risco de nos desfazermos e quase devagar
Virarmos poeira inteira da vida
Sou assim essencialmente crua
Conseguindo atar no tempo os laços
Que prendem e desprendem um após o outro
Correndo o risco de parcelar minha vida
Em prestações sempre iguais
E esse alvo necessariamente marcado
Já sabendo o fim da estrada
Traz consigo o medo de arriscar
E contrariar a lei dos cretinos
Sem ter o trabalho de largar
É isso mesmo,
Desfazer quase sem querer do corpo
Para entregar-se transcendendo aos limites
Das explicações de nossos pais, tios e avós;
Para encontrar-se sozinho num encruzilhada de medos
Nesse estágio o que se quer mesmo
É o colo pensativo, as mãos quentes;
O afago de leve nos cabelos
De qualquer um, de amigo, de amor, de irmão.
Para pulverizar todas as incertezas dos olhos
É tudo tão junto, que as coisas se misturam.
Sendo o que é, fazendo o que nunca faria;
E caindo, e subindo, e rastejando;
Até que de repente alguém grite com dor maior
Para que possamos levantar e olhar para dentro