Canela Grossa
Na gafieira o dançarino conduz sua parceira com elegância e categoria pelo salão como um bom malandro, enquanto a dama esbanja charme num jogo de pernas e um gingado nas cadeiras que só a mulher brasileira tem.
Fala quem quer, dança quem pode...
Ela era a moça que intrigava toda a vizinhança
Atitude de mulher num balanço de criança
Onde a moça de família ia religiosamente toda sexta feira?
É a perguntava que martelava as carolas protetoras da vida alheia
Preocupadas com sua reputação indagavam até mesmo a lua
Olha o vestido dela todo esvoaçante pela rua
Abaixo dos joelhos e sem decote mais com uma alma totalmente nua
Bate na porta dos seus pais pedindo uma xícara de açúcar emprestado
Desculpa esfarrapada para bisbilhotar se a moça já tem namorado
Mamãe fica nervosa e ao invés de açúcar põe na vasilha sal
Minha filha foi dançar devidamente acompanhada do irmão no Canela de Cristal
A vizinha se assusta porque lá é um salão de gafieira
Mamãe então responde minha filha trabalhou a semana inteira
Mais ela pode ficar mal falada
Acontece que eu e o pai dela sabemos a filha que temos em casa
Enquanto chego mais quente que ferro em brasa
De salto alto com um gingado sapeca no salão
Sem acrobacia porque dançarino dança é no chão
Descolo um parceiro marrom bombom
Levantando poeira com o balanço das cadeiras
A moça simples que trabalha na roça
Se torna um perigo ambulante em cima de um par de canelas grossas
Faz seu partner sonhar que dança gafieira com ela no céu
Rostinho colado sentindo o cheirinho do cangote de Raquel
Os vizinhos se preocupam demais
Enquanto isso joga os cabelos a sedutora moça de Batatais
O mulato sente aceleradas as batidas de seu própio coração
Enquanto dão show riscando o salão
E o malandro a conduz pela cintura no embalo da gafieira
Morena com aquele jeitinho brejeiro de mulher brasileira
Danço porque apesar de tudo ainda luto para ser feliz
Que culpa tenho eu se no final aplaudem e ainda pedem bis...