Repetições

Eu faço um poema de centenas de palavras tão repetidas

Nesse instante mesmo, certamente, cada uma dessas palavras estão

sendo faladas e escritas por outros, tão fúteis quanto eu

Pessoas que não sei a história e nunca saberei

Eu hei de viver minha vida e elas as delas e isso será a única coisa que teremos em comum:

Ter dito a mesma coisa exatamente na mesma hora

É como uma tempestade às quinze horas do dia doze de maio de 1999,

Onde também chovia na pequena cidade de Embú das Artes

(Não importa)

O que deveras é relevante é a coincidência

Esta e muitas outras que os tolos chamam de destino

Apenas atino que isso não existe

O que existe são repetições e que são encantadoras

Ah, se eu pudesse ouvir - eu te amo - por cinco bilhões e novecentos e noventa e nove mil pessoas dita ao mesmo tempo, soaria tão alto e tão poético que alguém ouviria anos-luz daqui. Ah, que efeito! Que espetáculo!

Mas ainda faltaria uma pessoa dizer

A Daniela nunca dirá essas palavras

E isso me comove ao mesmo tempo que faz-me adimirá-la ainda

mais, por ser única.

Guilherme Sodré
Enviado por Guilherme Sodré em 01/05/2011
Reeditado em 01/05/2011
Código do texto: T2942182