MEU SER CONFLITANTE
Sou humilde ser da existênica
Que D´us fez ser o que é
Dotado de sonhos e de fé;
Na árdua lida de implácavel fel
Debaixo de céu que me encerra
Na desventura amorosa
Levada no vento com a rosa
Que vi medrar lá na serra.
Tão longa jornada o tempo
Me foi cruel em poupar-me
E as ronchas a salientar-me,
Não resiste o sol, nem o frio,
Que a pele não tem espera
Sem perspectiva a esperança,
Quisera eu não ter sido criança,
Nem ter conhecido esta era!
A luta constante no seu íntimo,
São duas pessoas de cunhos iguais,
Que brigam entre si os seus ais,
Não recebi já do rei os tijolos
As vozes que queixam da sorte
Para produzir a precípua palha
O ócio que no sangue se espalha,
Só resta no leito a espera da morte.
Não gero aqui arrependimento,
Não arrependo-me se eu não fiz,
Mas tentei tudo o que quis;
Na influência ou por mera fraqueza
O que não quis me deixei levar
Para permitir impulsos levianos
Que me foram até mesmo profanos
Que me puxaram para este mar.
(JORÃO BENTO)