A batalha de Tarão

Na vasta planície, em inverno,

Faiscando-se o ódio paterno

Dos que almejam o que jamais terão.

Fez-se já, em linguagem poliglota,

Um só momento, uma só derrota,

Fez-se o genocídio de Tarão.

Olhar em ódio, espada em punho,

Por inefável desprezo alcunho,

Dimocoriá bradou qual trovão:

“Ouve a voz do teu final lamento,

Tuas lágrimas fluirão pelo vento,

Teu sangue escorrerá pelo chão.”

De sentimentos impassível, vácuo,

Com um quê de insentir já iníquo,

Fenaceol proferiu o desfecho:

“O corpo cicatriza o danoso

Em meio a casca, miraculoso,

Circundando por si só cada eixo.”

E deu-se início às canções

Funestas, que cruzaram gerações

Fincando em Sinamogro um fado.

Em fundo, anarquia e república

São faces de uma mesma forma cúbica

Q’alegam ser o outro não-quadrado.

As guerras regulamentam o mundo,

Tornando o bem do mal oriundo,

Santificando um inferno laico.

São, mais do que um ato, um princípio

Moldado em valores de cunho ímpio

Que regridem o tempo ao arcaico.

Eis visível o porquê do infindável:

A falta d’um progresso mensurável

Q’estagna ao vivente um defunto.

Horizonte vertical: Há um único

Organismo d’início talvez púbico

E epílogo sempre lhe adjunto.

Em Tarão, atos de significável

Rancor foram dados ao incontável

Que, de prontidão, perdeu-se em números.

A cada milha d’olhar percorrida

Soava ao vento nota contida

De pesar, frente ao acervo de úmeros.

Tarão foi palco da história épica

Dos seres sábios em aritmética

E leigos ao código natural.

A cada alma que ao céu findava,

Cada hemácea que o chão semeava,

Legava ao vivo um fim carnal.

Tarão foi palco de destino fútil,

Do findar do pulso dito inútil,

Do nascer d’um regime nunca morto.

Anfiteatro d’unissonos nomes,

Tarão acolheu seus donos disformes

Que d’outra terra sofreram aborto.