Palavras Fantasmas

Por que deveria me vingar

Se não fui eu quem desferiu o golpe?

Você atingiu a si mesmo

E eu fui chamada vilã

Serei tão má apenas por não ajudar

Quem se atolou sozinho

Depois que disse para ter cuidado?

A máscara da força cai

Ao primeiro sinal de solidão

Embora a fraqueza não me faça sentido

Pois o golpe veio do lugar errado

E ninguém pode fugir de si mesmo

Há mesmo luz depois do túnel

Ou é só uma desculpa

Para atrair-nos à escuridão?

Há algo de bom além do caminho

No qual perdemos todos os sonhos?

O que é a esperança senão

Uma prova de que todo o concreto se foi

E só resta acreditar no abstrato?

Não há uma verdade expressiva

Nesse campo acre onde os sonhos morreram

Não há respostas para as perguntas que ecoam

Na voz dos fantasmas

Nada vai se reerguer

Senão as cinzas levadas pelo vento

Já sem qualquer sinal de vida

Os fantasmas estão mortos

Mas suas perguntas estão vivas

Tanto quanto estão mortos

Os corpos e as respostas

Perguntas não reerguem ninguém

Pois só evidenciam a impotência

A ignorância

Perguntas são úteis em vida

Quando ainda há chance de acharem as respostas

Mas na morte

Só aceleram a decomposição da alma

Como os vermes o fazem com a do corpo

Eu poderia usar palavras belas

Mas elas soariam falsas

E são as perguntas ásperas

Que trazem consigo a verdade

Não, eu não estou fugindo das respostas

Apenas não consigo encontrá-las

Por piores que sejam

Prefiro-as à ignorância

E já desisti de coisas demais

Para voltar atrás outra vez

O mundo é redondo

Mas anda apenas em um sentido

Sua rotação não persegue o passado

E eu não voltarei aos tempos da infância

O sangue em minhas mãos não será lavado

E nada pode ser realmente apagado

Só há o futuro

E algumas incógnitas embutidas

Os mistérios do passado a ele pertencem

Mas as perguntas do futuro

Cabe a nós desvendar

Pois os fantasmas não trarão respostas

Eles que morreram sem as ter

Ninguém poderá ajudá-lo agora

Saia do poço onde caiu sozinho

E procure suas próprias respostas

Pois não há mais nada aqui

Que possa interessar aos vivos

A verdade morreu

E sua aura se espalhou em algum lugar