Diário dos camundongos
 
Camundongos passeiam nos vermes infames
Dos salames,
Esquecidos nas almofadas de algodão
Deitadas sobre memórias
Cheirando mofo
Fedendo uísque e solidão!
 
Camundongos arrastam seus rabos medonhos
Por entre estranho e anárquico engodo,
Juntando detritos, pruridos
E vão movimentando
Levando à boca, enquanto arregalam o olho...
 
Camundongos respiram seus bigodes infectados
Enquanto exploram usinas de lixos
Mantidas pelos prolixos e indícios
De babas gosmentas, batizando os restos das coisas
Com a respeitabilidade dos bichos,
Enquanto, humanos que somos, dormimos
No coito escandaloso dos instintos!
 
Camundongos deixam seus rastros
Pelas ruínas, esgotos, boeiros nojentos
E depois penetram feito fantasmas escuros
O submundo das nossas refeições
Imersas em todos as celulas dos desperdícios!
 
Camundongos são vertebrados do obscuro
Que aparecem nos armários do medo
E ficam lá
Roendo
Sem complacência, qualquer tecido maculado
Qualquer fenômeno doendo...

Roedores convictos,
Os camundongos espreitam

Com suas presas afoitas,
Esperam a hora do banquete
No instante da farra das sobras
Nos abjetos em que a gente se deite...

Em tempo: Camundongos humanos ou humanos camundongos?
Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 08/02/2011
Reeditado em 08/02/2011
Código do texto: T2779003
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