AS MESMAS MÃOS

Plantei soletradas ilusões,
No jardim da liberdade,
Senti algumas saudades,
Ignorei as razões - os senões,
Espalhados pelas ruas da cidade,
Dei oportunidade à loucura,
Reabri o caminho com as mãos,
As mesmas mãos,
Que se movimentaram,
Numa noite escura,
Que trêmulas percorreram,
A nudez do seu corpo no leito,
A umidade - a ternura.
Com vivacidade, com textura,
Mãos que sentiram,
A pele, o pelo, o apelo, o tremor,
O instante radiante, o fulgor,
De um amor por nós tão aceito,
Mãos que te fizeram dormir, sonhar...
Com a nona sinfonia,
Com a eterna felicidade,
Com a terna poesia,
Mãos que te acenaram,
Num silencioso, último adeus,
Pretérito (im)perfeito,
Que se movimentaram,
Na madrugada vazia,
Na via da imprecisão,
As mesmas (estranhas) mãos,
Que um dia ficarão,
Inertes sobre o meu peito,
Sobre tantos (indecifráveis) eus.