VISÕES DE NADA (Uma Poesia Nada Romântica)
Minha querida me sinto estranho, porém,
hoje estou um pouco melhor que ontem,
se é que saber isso de algo lhe serve ou importa.
Consegui entender alguns porquês da existência
e até consegui dormir um pouco, ato este simples,
que até já tinha esquecido como fazer.
Descobri por exemplo que não quero mais saber
a que horas tu acordas ou a que hora vai dormir e
todas as demais estupidezes a que nos apegamos
nesse meu eterno (aproximando-se do fim) estado.
Que não preciso decifrar seus segredos, aqueles,
ocultos por teu silêncio, mas expostos por seu tímido olhar.
Sua personalidade te pertence, não vou dissuadi-la a mudar,
muito menos tentar te controlar, ou qualquer que seja
a insanidade a que me apeguei de momento.
Compreendi pontos primordiais (acredito eu)
depois de mais uma crise de terríveis visões de nada.
Gritaram em meus ouvidos, as vozes que me
acompanham, desde sempre, desde menino, aquele
menino, de quem herdei apenas o nome e a demência.
Tão alto que não pude escutar os sussurros da prudência.
Contudo, dessa vez ela me pareceu extremamente real,
sim, ela, a loucura, tanto que pude tocá-la.
A primeira idéia é possível ler nas linhas abaixo dessa:
Amamos a nós mesmos sob o pretexto do outro.
Imagens perfeitas e imaculadas de nossas mais belas virtudes,
que não condizem com a verdade, se é que "a verdade"
do ponto de vista universal existe ou algum dia existiu.
Estou começando a investigar isso também:
Será a verdade algo real ou mais uma imagem refletida em espelho?
E sinto minha simpatia para com as imagens e espelhos se extinguindo.
Depois, a seqüência do meu delírio (que até parece)
me levará a algum lugar, me revelou isto:
Meu coração bateu mais rápido, mais forte por ti?
Pelo menos foi o que imaginei a princípio.
Contudo temo que tal afirmação não tenha um sentido,
conotativo ou até mesmo poético, e sim patológico.
Tão patológico quanto o estado atual de minha consciência irreal,
atual não no sentido de anos, meses ou dias, mas desse instante,
exato e irreversível, que agora se torna minha eternidade.
Mas já no terceiro ato dessa minha peça não ensaiada,
que hora parece drama, hora parece comédia, ainda,
me falta entender o funcionamento do mecanismo do amor.
Tal que me cega para seus defeitos, e produz em mim,
até mesmo um pouco de otimismo diante da vida.
Mas estou certo de que irei concebê-lo em uma visão gloriosa,
assim como todos os pensadores fétidos e cheios de vícios,
(sabidamente para suprir sua dose diária de fantasia e/ou fuga de si),
o fizeram antes de mim e o farão bem depois que eu partir.
Partir? Partir para lugar nenhum.
E então eu vos apresentarei o mais poderoso ópio, aquele,
a quem nem os deuses, que habitam o imaginário humano,
conseguiram se esquivar.
Todavia, tudo em ti me causa mal estar.
Indubitavelmente, esse corpo, com sensações
e idéias é tudo que sou, serei e mais nada,
nem uma centelha a mais que isso, em um além qualquer.
Mas como posso eu amar aquilo que põe em risco tudo que sou?
Como posso acariciar a loucura que me ataca, quando estou a vagar,
perdido em devaneios por vielas pavimentadas (caoticamente)
com pedras, ainda molhadas, após a chuva de início de primavera,
desesperado, procurando por sentido, companhia, ou morte?
Simples, tão óbvio como tantas outras obviedades
que passaram despercebidas aos olhos de muitos,
por serem óbvias demais.
O amor nada mais é que o impulso Darwiniano observado
pelo prisma de um cérebro gigante e complexo. Óbvio não?
Sim, sim, sim e digo mais:
Seres complexos relacionam-se de forma complexa,
até que tudo se torna tão complexo que é necessário torna-lo metáfora,
eleva-lo a posições divinas e inacessíveis.
E quem são os responsáveis por tamanha abominação?
Pois certamente o é, e deve eternamente ser classificada como tal.
Já que elevar aquilo que seria a única coisa a dar um pouco de sentido a vida, ao nível metafísico, e deixa-lo lá, e elege-lo como mais um deus estúpido, é um crime de dimensões comparáveis somente àquele de Prometeu, e por sua vez, merecedor de semelhante castigo.
Quem?
Ora, este que em momento de insanidade,
perde seu (já sem valor algum) tempo
para escrever coisas desconexas,
a fim de torná-lo ainda mais distante,
irreal, de contribuir em sua abstração.
Este que ao invés de senti-lo, escreve.
Que ao invés de vivê-lo, pensa.
Este que foge ao invés de buscá-lo.
Pensando bem...
esse desassossego todo me deixou cansado,
alterou meu já instável humor e portanto,
não quero mais brincar disso.
Perscrutar minhas pretensões me parece perigoso demais.
Se um dia eu mudar de idéia a respeito de tudo isso, quem sabe,
eu volto a indagar-te , e quem sabe, eu volte a viver.
Ou ao menos, sentir-se vivo.
Preciso voltar a dormir.