Palhaços

Palhaços bêbados e suicídas riam de sua própria decadência.

Uns sentados sobre latas de lixo, outros eram o conteúdo destas.

Anunciavam aos passantes, verdades amargas e óculos de cegueiras.

Eram estes os espelhos de suas almas e consciências.

Os que observavam a cena, se escarneciam dos sacrílegos da alegria.

Na maquiagem desses habitantes de picadeiros e sonhos falídos,

não há uma lágrima, à representar a dualidade de seus destinos.

A lágrima é o todo, é a ela que se maqueia e disfarça de palhaço.

No beco, cujas paredes são pintadas de verde esmeralda pelo limbo,

os outrora mestres do riso, gritam para nenhum ouvinte humano, suplicam

e esperam alcançar algum ouvido divíno, que possa lhes convidar

a ser os bobos de sua corte celeste, além de um horizonte ou núvem qualquer.

Os transeuntes seguem suas jornadas,rumo à desconhecida compreensão do incompreensível.

Palhaços velhos e deprimidos não merecem moedas, e muito menos atenção.

Os mais velhos que deprimidos, pensam, e quando cansados, cochilam sonos intranquilos.

Os mais deprimidos que velhos, respiram fundo, como abismos infernais, alimentando lembranças.

Se um dia, passar por aquela rua, lembre-se que lá tem um beco habitado por palhaços sujos.

E caso sejas demasiadamente curioso, os verão no mesmo lugar, dispostos da mesma forma.

Uns sentados sobre latas de lixo, outros são o conteúdo destas. Mas se é para nos conhecermos,

o momento é este. Muito prazer. Não me verás sentado sobre as latas de lixo.