Meu Bolero de Ravel

Silêncio.

Entardecer na praia.

Um mar de águas calmas

movimenta-se sem pressa,

Elevas o saxo e tocas para mim

Meu trecho poético predileto:

O Bolero mais bonito que já existiu!

É de Ravel a autoria,

Mas são teus acordes que me encantam

E embalam…

E embalam também o sol poente,

Incandescente.

Uma brisa acalentadora parece convidar-nos

A esperar pelo auge do crepúsculo,

Executas o meu Bolero numa versão melódica

Que me encanta e arrepia!

Delicio-me com a imagem do último raio de sol

E a presença da lua cheia que vai nascendo…

Enquanto que o poente muda várias vezes de cor.

É como se a natureza trocasse o pano de fundo

Neste teatro que é a natureza…

E o auge do espetáculo é o momento

Da transição entre o dia e a noite

O céu veste-se de um manto negro

Reluzente de estrelas

Deixo-me levar pela magia do momento.

Expulsei os medos e não existem segredos…

Continuas tocando… calma e envolvente

Dolente… a melodia vem

Lentamente, suavemente,

Apoderar-se de mim,

E agora tu também,

Lascivamente

Pretendes levar-me

Numa viagem que eu permito

Deitas meu corpo sobre a areia

E entregas-me a outros prazeres

Que não os da música

Num longo, infinito momento,

Fazes do meu corpo teu instrumento

Ouço agora outra melodia

Em crescente euforia

O som descompassa

Agora ouço outro compasso

O ritmo é forte, a marcha promete!

Arrebata-me essa estrondosa melodia!

Entra profundamente em mim, me completa

Fecho os olhos... absorvo os acordes,

Nesse êxtase musical

Infinito e universal!

Essa música ecoa dentro de mim…

Tambores, flautas, harmonia,

Poesia…

Harpas, caixas, saxofone,

Trombone…

Em maviosos acordes sem fim!

Aumenta intensamente o ritmo

E nossos corpos seguem, sôfregos e molhados

Neste Bolero… de ritmo aumentado

Num bailado ardente e efervescente

Ondulante e insinuante…

Na ênfase sonora e na entoação

Cresce o andamento e atinge a explosão

Mar, céu, brisa, areia, noite,

Parecem querer fazer parte

Desta bela sinfonia...

Não sei se frenética,

Não sei se suave...

O Bolero da minha vida!

Ana Flor do Lácio (18/01/2011)

Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 19/01/2011
Reeditado em 25/06/2011
Código do texto: T2737912
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