A LOUCURA DESSAS ÁGUAS
As aparências enganam
são lâminas descartáveis
véus caindo em cascata
que desnudam a escura prata
das nossas verdades incômodas.
Apertado é o nó desta gravata
de ambição e medo e espanto
os ratos abandonaram navio
das velas queimou o pavio
e os santos dormiram nas rezas.
O olhar olhou de esguelha
tua fome me buscou,
o meu olhar te caçou
...escolhas...
O precipício pode ser um refúgio
a tristeza , pausa entre alegrias
pés podem substituir as mãos:
ao invés de carícias e afagos
golpes à traição no escuro
o rosto colado ao muro
... lamentos...
A janela aberta carrega
os olhos pra longe,
uma linha tênue em viagem
de milhares de anos luz
a boca da noite se entreabriu
e dela voaram borboletas cintilantes
no céu da minha boca a tua língua
no teto do quarto
o mapa dos meus pensamentos.
O olho do pássaro reflete o jardim em flor
a asa do pássaro corta a cena
marca um tempo no movimento.
Fervi por dentro como fornalha
derramei meu corpo em lava
sobre a tua fome em riste
o chão desmoronou engolindo
a cena em aquarela borrada
a tela escorria tinta fresca
de sangue e orgasmos e lágrimas
tanta água transbordando
e virando cachoeira
arrepios na pele
corpos além das fronteiras
do possível,
voamos juntos em espiral
fomos ladeira abaixo
pedras rolando de rir
um vento embaraçou meus cabelos
e me jogou sobre as ondas...
... Me salva ó amor
me salva
das loucuras dessas águas!