A LOUCURA DESSAS ÁGUAS

As aparências enganam

são lâminas descartáveis

véus caindo em cascata

que desnudam a escura prata

das nossas verdades incômodas.

Apertado é o nó desta gravata

de ambição e medo e espanto

os ratos abandonaram navio

das velas queimou o pavio

e os santos dormiram nas rezas.

O olhar olhou de esguelha

tua fome me buscou,

o meu olhar te caçou

...escolhas...

O precipício pode ser um refúgio

a tristeza , pausa entre alegrias

pés podem substituir as mãos:

ao invés de carícias e afagos

golpes à traição no escuro

o rosto colado ao muro

... lamentos...

A janela aberta carrega

os olhos pra longe,

uma linha tênue em viagem

de milhares de anos luz

a boca da noite se entreabriu

e dela voaram borboletas cintilantes

no céu da minha boca a tua língua

no teto do quarto

o mapa dos meus pensamentos.

O olho do pássaro reflete o jardim em flor

a asa do pássaro corta a cena

marca um tempo no movimento.

Fervi por dentro como fornalha

derramei meu corpo em lava

sobre a tua fome em riste

o chão desmoronou engolindo

a cena em aquarela borrada

a tela escorria tinta fresca

de sangue e orgasmos e lágrimas

tanta água transbordando

e virando cachoeira

arrepios na pele

corpos além das fronteiras

do possível,

voamos juntos em espiral

fomos ladeira abaixo

pedras rolando de rir

um vento embaraçou meus cabelos

e me jogou sobre as ondas...

... Me salva ó amor

me salva

das loucuras dessas águas!

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 31/12/2010
Reeditado em 31/12/2010
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