Purezas

O sopro, no ouvido, gelado

Um suspiro, calado

O verso versejado

O vírus que golpeia

Serrilhado,

O sêmen

Semeado

Ardor de flecha que mata

O mendigo da esquina

Que esmola, migalha

Que rouba e faz serenata

Também tem amada

Todos têm? Que nada

O lixo

Destituído e amassado

Fervilhado

Em banho maria

Alimenta a prole

Da dona Judia

Que é preta velha

Canta, trabalha e cuida das crias

Das mudas das plantas

Das mudas e surdas

Das mudas e santas

Raparigas.

E o seu José

Marido,

da dona Judia

De pedreiro trabalha

De dia no sol

De noite no bar

Da cachaça

Da putaria.

Tem oito filhos

O Pedro, o João, a Maria

O Fausto, o Carlão e a Maria

O Marcos e a Maria

Oh Maria!

De tantas e muitas

De nenhuma.

Novamente o sopro

Novamente gelado

Veemente

Desbravado

Doído, ardido, velado

Nas covas do por do sol

Nos sorrisos amarelados

Nos ladrões de terno

Nas propinas do senado

Do caramba.

Do esquizofrênico, louco

Marginal

Internado, dopado, acabado

No hospital

Por tudo

Pela vida.