INCESTO
Nascido filho de um incesto,
tão torto e já quase morto,
arrasto-me; prá andar não presto.
Parido daquela mesma magreza,
engulo sempre mesmos restos
e sobrevivo vasculhando pobreza.
Sofrido, por muitas, tantas dores,
esbarrando em sombrios desgostos
do adeus daqueles muitos amores.
Perco-me assim, escura alma vazia,
orfã de quem não mais me quis
e que nas auroras tristes, tardias,
parido filho que eu mesmo fiz.