Eu e o Abismo
Sentado à beira de um abismo
Com a ideia firme de partir mais cedo
O medo de cair toma-me a mente
E, solenemente, a razão que, atenta ao casuísmo,
Aponta ao meu trôpego corpo, o degredo.
Já se vai metade do século
E eu, aqui, varrendo o chão do inferno
Um inverno que a solidão impõe
À alma, num pensamento incrédulo...
Vasta sabedoria, regada com estupidez
Que me fez, e que se desfaz em sermões.
Os pensamentos agonizam-me intempestivamente
Minha mente se abriga em vestes fúnebres
Não sei o que penso saber, nem de onde eles vêm
Um trem arranca o meu cérebro agonizante
Flutuante pelo espaço... sou um raio valente
Num corpo composto, tenho pensamentos lúgubres.
E, num espaço à frente, toma-me a demência
Confluência de dogmas e costumes
Tapumes em terra descampada
Um nada que se assoma a um quase ser
Ser ou não ser; quem sabe, sabe querer
O acaso, por acaso é contingência...
Ambigüidade em uma vida comparada.