Mania de ser
Sou do pouco a metade
Do malandro sou a droga
Do ruim sou a maldade
Sou do triste as lágrimas
Do amor sou a saudade
Sou do mendigo a esmola
Do mal vizinho a falcidade
Sou do pedinte a sacola
Do terrorista a crueldade
Sou resto que sobrou do resto
Do nada eu faço parte
Do ladrão sou o roubo
Da vítima o que foi roubado
Da polícia sou o cacetete
Do cabaré sou a vedete
Das trevas sou o escuro
Do inferno sou o diabo
Sou do presente o futuro
Da inundação sou a água
Do fogo sou o incendio
No jogo sou o que perde
Também o lucro perdido
Na família com meus irmãos
Sou o que tem mais sofrido
De todos os errados
Sou o mais arrependido
Da igreja sou o telhado
Da cadeia sou o preso
Dsa roupas sou o rasgado
Da seca sou a fome
Sou o verme que nos consome
Sou um relógio atrasado
Entre todos os pecadores
Dou o que tem mais pecado
Do pescador sou a isca
Do office boy sou o recado
Do show sou as vaias
Do tijolo sou o barro
Da casa de taipa as palhas
Do velório sou o caixão
Do defunto sou a mortalha
Do cego sou a bengala
Dos indios sou a flexa
Dos negros sou a senzala
Do mágico sou a cartola
Da topada sou a pedra
Dos aviões o que não decola
Do livro sou o final triste
Do cartaz sou a cola
Vivo de ser tudo
E mesmo assim não sou nada
Do ruim sou o péssimo
Da rua sou os buracos
Dos óculos sou a armação
Do dinheiro sou o troco
Do pecado a maldição.