BALAIO
Não busques o teu silêncio
no som das minhas palavras.
O que eu digo, o vento leva,
o meu pranto, o tempo lava.
Não me peças o que eu não tenho.
É tão pouco o que eu necessito:
um canto, uma flor, um beijo,
um verso que for bonito.
Não leias a minha vida
no livro dos teus desejos.
O que eu pressinto, eu desvio,
e fujo, se amor não vejo.
Não desfaças a tua mala,
o tempo é de despedida.
De teu caminho sem volta
não enchas a minha vida.
Não guardes a tua infância
em meu balaio invisível.
Retorna ao teu berço e canta
o teu sonho intransponível.
Guardes apenas nos olhos
o meu olhar obscuro,
ao poder do que não creio,
à sombra do que eu procuro.
Marilia Abduani- 5 de nov 2010