CADUQUICE
Os cinquenta anos
das pernas minhas;
solitárias andarilhas,
caminhantes sózinhas,
têm todas as idades
dos meus ossos tortos.
Contam-se aos montes,
tão coitados, mortos.
De tantos desvarios
da vida nossa,
desgarrou-se o corpo,
enterrou-se em fossa.
Virou certo índio,
absorto, calado,
caçando ainda versos
e guerreando pelado.
E os anos todos
perdidos, procurando nada,
atrevido, querendo tudo,
foram-se em madrugadas.
Confundo tudo agora,
misturo sol e lua;
que a alma caduca
e o corpo é da rua.