Balada de um lunático

Eu, Aristófanes,

de nome helênico,

fui um filósofo

douto agnóstico.

Nasci num século

entre a robótica

e a cibernética

ciência lógica.

Inventei fórmulas

de matemática

(cálculo hidráulico

e subatômico).

Quando, então célebre

sábio teórico,

viajei ao trópico

de clima úmido.

Aprendi sânscrito,

decifrei códigos,

compus um fármaco

soro antiofídico.

Eis que num sábado

de noite gélida

- um frio eólico

vindo do pântano -

veio-me a dúvida

mais metafísica:

o mundo é cósmico

ou é caótico?

Questão estúpida

e meio mística!

Saber efêmero

quase onírico...

Um povo cético

me viu satânico

e por mais ético

fez-me tirânico.

E mesmo ótimo

fui a uma clínica

- um lugar fétido

de piso rústico.

Disse-me o médico

um tanto cínico:

"Não tens mal físico

mas psicótico".

Tomado em pânico

pelo mal crônico,

perdi o ânimo,

tornei-me lívido.

Bebi um cálice

cheio de arsênico,

fechei as pálpebras...

Ah, morte trágica!

Em minha lápide

um verso póstumo:

"Eis minha crônica,

a dor de Sísifo...

Eu, Aristófanes,

fui tão retrógrado.

Hoje eis-me rígido,

morto e lunático."

Marcel Gustavo Alvarenga
Enviado por Marcel Gustavo Alvarenga em 21/09/2010
Código do texto: T2511722
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