TRANSITANDO NAS
SOMBRAS
Preto retinto
branco teclado
escuridão pressinto.
Caminhando às cegas
ora afirmo, ora desminto
não sou sem sal, nem sem cor
nem sou estátua no andor.
Assim sou eu, serena
nem grande nem pequena
sem retoques, sou plena
sem remoques, sorrio
nem vadia, nem senhora
apenas mulher revelada
neste escuro claro
neste claro escuro
feito de luar e noite
aonde brilham em prata
jasmim, copo de leite
e sob os escombros ainda
véu de viúva, formiga saúva
escuridão que cega.
Da luz néon viceja
esta claridade ofuscante
fere meus olhos cansados
e resta a mente errante...
Correm cavalos árabes
pelo espaço enluarado
ovelhas no pasto, solidão
minha mente
eclipse total
página vazia!
Tua negra bandeira pirata
sofrimento e morte anuncia
e tuas idiossincrasias
tomam de assalto meu convés.
Da cozinha longínqua estoura
e é branca a pipoca na bacia...
Um corpo ágil,
graúna arisca
voa sobre a branca espuma de onda
uns olhos negros, brilham brilham
minha pele macia, branca, branca
tua filosofia,
manca, manca...
Meu chapéu preto
minha blusa branca
este mal secreto
minha vida estanca.
No claro escuro desta aquarela
borra-se a compreensão
e escorrega-se na ambiguidade
o que era mentira
agora será verdade?
e o que cantava o poeta
em claríssimas evidências
ficou um som cavo,
vibra agora em nota falsa.