EU QUERO SEMPRE MAIS

“Ao poeta e amigo Eduardo Castro”



Qual é mesmo o sentido da vida?
É somente nascer, crescer, se reproduzir, envelhecer e morrer?
Depois ir não sei pra onde, aguardar não sei o quê? O juízo final.
Não sei quando, não sei como, não sei onde. Nada sabemos.
E os meus sonhos? E tudo aquilo pelo qual lutei uma vida inteira?
E os meus amigos queridos? E aqueles a quem amo?
Se eu for pro céu e meus pais pro inferno, como poderei ser feliz sem eles?
E se for o contrário, como ficarão sem mim? E os meus filhos? Minha amada?
Tudo parece uma grande besteira, de mau gosto, uma grande piada.
Oh! Vida! Vida pouca, vida pobre, vida parca. Quero-te toda e não em partes fatiada!
 
 
Plantei árvores
Tive filhos
Escrevi livros
E não fui feliz.
 
É tudo uma grande mentira
Uma piada de mau gosto
Me sinto só
Isolado, reposto
E quero sempre mais.
 
Descontente
Às seis horas da tarde na orla eu corro
E meu peito voa
O pôr-do-sol é triste
O vento sopra, a noite cai
Meus sentimentos se esvanecem
Meus pensamentos fervilham
Minha alma se esvai.
 
Estou só e quer saber? Até certo ponto legal.
Não reclamo, agradeço
A liberdade de pensar tem um preço
Antes só que mal acompanhado
Desse bando de dementes, fúteis e bitolados
Frívolos e conformados.
 
Eu quero sempre mais.
 
Eu tenho pressa
Não consigo ver a vida da janela
Pela fresta da porta, pelo buraco no muro
Pelo quarto frio e escuro
Pelo teto, pelo olho mágico, pelas grades das prisões e celas.
 
Eu quero sempre mais.
Mais a preencher
Mais a saciar
Nada me conforma, realiza, satisfaz.
Eu quero sempre mais
Nunca obterei sossego
Paz, satisfação
É tudo muito pouco
Pra esse corpo, mente e coração
Eu quero sempre mais.
 
Não há nada que me baste.
 
Me disseram ser errado
Falta de Deus e coisa e tal
Do encontro com meu eu
Egoísmo, ambição.
 
Besteira! Deus me fez assim.
 
Insatisfeito, incompleto
Questionador e inquieto
Mas de certa forma
Em paz.
 
 
Eu quero o desconhecido
Eu quero sempre mais
A rotina me massacra
O certo está sempre errado
O especial no começo
Parece novo, extraordinário
Mas logo se esvanece
Envelhece, fica chato
De tão comum vira tédio
Limitado, mofo, um saco.
 
Eu quero sempre mais.
 
Deus por que me fizeste assim?
 
Nada me conforta
Nada me consola
Sempre incompreendido
Rebelde, estranho
Egoísta, desajustado
Admiro os que se dizem realizados
Admiro ou sinto pena
Acho tudo tão pouco
Por mais que se tenha feito
Conseguido, consumado
Acho tudo tão pouco
Tão pobre, medíocre, tão parco.
 
E não há cura pro meu vício
Eu quero sempre mais
Mais do amor, paixão, loucura
Infância, juventude, travessuras
Eu quero sempre mais.
 
 
E a vida é um grande teatro.
Ninguém sofre, interpreta.
Ninguém morre, sai de cena.
Os homens podem te obrigar a ser escravo
Através da força, da mentira, da coerção.
Mas ninguém pode te obrigar a ser livre.
Isso é contigo
Com a tua mente
Com o teu corpo
E coração.
 
E ainda que sejam belos
Os muros e grades desse mundo,
Dessa vida, dessa sociedade.
Prefiro minhas asas,
Meus desejos, meus anseios, minha liberdade.
 
Eu quero sempre mais!