Um Fausto contemporâneo
Eu, Aristófanes,
de nome helênico,
fui um filósofo
douto agnóstico.
Nasci num século
entre a robótica
e a cibernética
ciência lógica.
Inventei fórmulas
de matemática
(cálculo hidráulico
e subatômico).
Quando, então célebre
sábio teórico,
viajei ao trópico
de clima úmido.
Aprendi sânscrito,
decifrei códigos,
compus um fármaco
soro antiofídico.
Eis que num sábado
de noite gélida
- um frio eólico
vindo do pântano -
veio-me a dúvida
mais metafísica:
o mundo é cósmico
ou é caótico?
Questão estúpida
e meio mística!
Saber efêmero
quase onírico...
Um povo cético
me viu satânico
e por mais ético
fez-me tirânico.
E mesmo ótimo
fui a uma clínica
- um lugar fétido
de piso rústico.
Disse-me o médico
um tanto cínico:
"Não tens mal físico
mas psicótico".
Tomado em pânico
pelo mal crônico,
perdi o ânimo,
tornei-me lívido.
Bebi um cálice
cheio de arsênico,
fechei as pálpebras...
Ah, morte trágica!
Em minha lápide
um verso póstumo:
"Eis minha crônica,
a dor de Sísifo...
Eu, Aristófanes,
fui tão retrógrado.
Hoje eis-me rígido,
morto e lunático."